São José da Lamarosa, freguesia da capital mundial da cortiça (Coruche), aldeia de campo e charneca, é um dos lugares a nível nacional onde mais humildes gentes trabalham na extracção da cortiça. Todos os anos em dias de Primavera que já beijam o árduo calor de Verão estas gentes do campo iniciam a tão esperada época da tiragem da cortiça, na qual todo o quente e abrasador Verão de sol a sol desenvolvem a sua actividade que lhes proporciona os melhores rendimentos de todo o ano que da charneca levam para as suas casas
Suor brota dos seus humildes rostos, é um trabalho árduo debaixo de forte calor que apenas apanha em um ou outro momento uma muito débil e pequena sombra dos próprios sobreiros que são trabalhados. Já começou na aldeia mais uma época da cortiça este ano atípica com muito cuidado entre todos para protecção do nefasto que os dias entre nós muito e muito… ofusca
De machadas bem afiadas, homens na sua sabedoria e técnica despem os sobreiros da cortiça, mulheres juntam a cortiça extraída dos sobreiros em pequenos montes que normalmente outros homens ou jovens carregam para cima de um tractor que a transporta até terreno direito onde outros homens, jovens e mulheres a empilham fazendo a pilha da cortiça que mais tarde seguirá em camiões para as fábricas
O meu tio José Matias entre nós conhecido por José Malha, hoje não muito distante da centena de aniversários comemorados, foi até creio eu bem próximo dos seus oitenta anos um dos principais “empreiteiros” da extracção da cortiça na aldeia, e eu tão saudosa e orgulhosamente fazia as ferias escolares de Verão a trabalhar na cortiça com estas minhas gentes. Desenvolvia a actividade de “molheiro” que normalmente são quatro jovens ou homens que carregam e aconchegam a cortiça extraída no tractor se revezando entre si a cada carrada, dois a carregar e os outros dois em cima do tractor a arrumar a cortiça que depois segue até à pilha em percurso continuo durante todo o dia de trabalho
Começou entre nós mais uma época de tiragem da cortiça que se prolonga todos os anos até meados de Agosto. Estou na aldeia e gosto de ver estas humildes gentes ao fim da tarde a chegarem das charenecas. Os homens normalmente bebem apressadamente a sua tão merecida e desejada cerveja fresca e rumam às suas hortas até que a claridade do dia marque presença para saciarem a sede ao seu sustento que o dia quente secou
O meu humilde orgulho, admiração e respeito por estas minhas honrosas gentes
Um abraço Amigo
